Perfil

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
Acredito que um blog legal é aquele que te ensina algo, que te faz viajar, que fala sobre: lugares, pessoas, culturas, montanhas, preservação da natureza, ... Espero que você goste dos textos que escrevi, interaja com o conteúdo, deixe um comentário, opinião ou sugestão e se anime a contar as suas histórias também.

quinta-feira, 15 de julho de 1999

No trem da morte.

Pela manhã, após o café, seguimos direto para a estação de trem. Logo ao chegarmos, descobrimos que não havia mais passagens para o mesmo dia nas 1º e 2º classes e, se quiséssemos viajar no mesmo dia, teríamos que comprar bilhetes para a última classe. Então, para não perdermos mais um dia (e a classe), decidimos embarcar no trem. Assim que compramos as passagens, começamos a olhar ao nosso redor e observar o que encontraríamos pela frente. Além de nossas imensas mochilas, teríamos que dividir o espaço dos pequenos corredores do trem com os bolivianos carregados de sacos e caixas de produtos compradas na fronteira, além de crianças, galinhas e muitas outras coisas que é melhor não tentar descobrir. Quando o trem chegou, iniciou-se uma correria de pessoas com caixas e sacolas que muitas vezes eram lançadas para dentro do trem. Nós tentávamos achar nossos lugares no meio dessa bagunça, que piorou ao descobrirmos que dividiríamos o pequeno banco de madeira, não reclinável, com mais três pessoas acompanhadas de mais uma ou duas crianças. Ao nos "acomodarmos", tivemos que aguardar a confusão gerada entre bolivianos (contrabandistas) e fiscais da Polícia Federal Boliviana que, ao perceber que os produtos não tinham notas fiscais, jogavam tudo pela janela com o trem já em movimento. Pancadaria geral, rumo a Santa Cruz de la Sierra! As 20 horas de viagem custavam a passar e, em cada parada, as pessoas invadiam os corredores vendendo "tchicha", um líquido de aparência estranha, acondicionado em um balde de procedência questionável. O jantar, um aquoso arroz com galinha servido em um pratinho de plástico, era oferecido por ambulantes, pela janela, quando o trem parava. Pasmos observávamos, com curiosidade, o voraz apetite dos bolivianos. Infelizmente é muito difícil descrever, em poucas palavras, toda a cena que presenciei durante aquele "fabuloso jantar".
Prosseguindo a viagem, ao cair da noite, mulheres e crianças, aos poucos, iam se acomodando no melhor lugar - o chão do trem. Logo não havia mais condição de caminhar dentro dos quatro vagões que compunham a 2º classe. Tentar chegar até o banheiro, que tinha uma privilegiada vista dos trilhos, tornava-se uma verdadeira corrida sobre bancos, bagagens e pessoas deitadas pelo chão. Passamos a noite tentando encontrar uma posição menos pior para dormir - ninguém conseguiu ...
Paula A.

Nenhum comentário: